2 de outubro de 2014

Saneamento básico pra todos!


Aqui no Brasil, as Jornadas de Junho foram a expressão da crise urbana e dos serviços públicos. A precariedade do saneamento, dentro do rol de serviços públicos, é um entrave e ao mesmo tempo uma necessidade mercadológica. É um entrave porque a falta de saneamento gera prejuízos ao capital, devido a doenças e seus impactos econômicos. Segundo estimativa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a cada ano, 217 mil trabalhadores afastam-se do emprego em razão de disfunções gastrointestinais. A universalização do saneamento traria uma economia anual de R$ 27,3 milhões. Ou seja, para a burguesia, é importante investir no saneamento em certa medida, pois faz parte da necessidade de manutenção/reprodução da força de trabalho, desde que isso não diminua sua taxa de lucros. Esta é a equação da burguesia. Mas por cima disso, paira a crise econômica internacional e a necessidade de cortar gastos sociais e enviar remessas de lucros ao exterior.
A luta de classes no campo da qualidade de vida, da necessidade de água potável, coleta de lixo, esgotamento sanitário e drenagem das águas pluviais, está concentrada hoje na luta por mais investimentos públicos pelo Estado, ou seja, contra qualquer proposta de privatização e terceirização das empresas estatais. Neste sentido, os exemplos de dois Estados brasileiros (Paraná e Permambuco) são taxativos: a ordem é privatizar.
O Estado do Pará: no final do ranking
O Pará está bem atrás das regiões Sul e Sudeste. Três municípios paraenses estão nas últimas colocações na questão de índices de saneamento. Dentre as 100 maiores cidades do país, Ananindeua amargou a última colocação, Santarém a penúltima e Belém a 96ª posição (Instituto Trata Brasil). O índice médio de perdas de faturamento do Pará é de 41,32% (enquanto o índice Brasil é de 37,57%). O cenário de saneamento no Pará é mais desigual que o cenário nacional.  Belém possui o centro dos serviços de saneamento, porém com muitas precariedade nas periferias.  
Pelo ranking do saneamento do Instituto Trata Brasil (ITB) de 2011, Belém tem índice de 8% de esgotamento sanitário e 76% de atendimento total de água. Ananindeua e Santarém têm 0% de atendimento de esgoto e aproximadamente 26% e 41% de atendimento total de água, respectivamente.
Deve-se levar em conta que o atendimento de água é precário, com uma qualidade não muito boa e com alto grau de cortes: 41,4% de índice de saneamento - o quinto pior do país. O número elevado de intermitência resulta na procura de poços artesianos. O maior exemplo é a capital. De acordo com o ITB, em 2010 havia 287.028 ligações de água em Belém, em 2011, o número reduziu para 265.402, apresentando a maior queda do Brasil, perdendo 21.636 ligações.         
Dados do Atlas do saneamento mostram que a Companhia de Saneamento do Pará – COSANPA, presta serviços de abastecimento de água a 41% dos municípios. Os demais sistemas de abastecimento são operados por serviços municipais de saneamento, em geral Prefeituras (80 sedes) e pela SANEATINS (empresa privada que abastece boa parte do Tocantins) - 5 sedes. (ATLAS/ANA 2010). Dados da mesma instituição mostram que no cenário de 2015, em matéria de oferta/demanda no Pará, 78% do Estado requer ampliação do sistema, 7% requerem novo manancial, e apenas 15% das cidades tem serviço de abastecimento satisfatório.
A Companhia e a política de saneamento
No quesito saneamento, o Estado não destoa da realidade nacional. O esgotamento sanitário é a maior pedra no sapato. Muitas obras de saneamento ficam paradas no Brasil. Na RMB, três grandes projetos de saneamento de ampliação estão atrasadas: recuperação da estação elevatória do esgoto da área central; bacia do UNA; rede de ligações domiciliares de Marambaia e Guanabara. As obras foram assinadas e iniciadas em 2008.
A quantidade de lutas na periferia da cidade, por exigência de condições de saneamento é uma realidade. O problema de saúde endêmico da população faz parte da falta de investimento em saneamento. A taxa de internação por diarreia é de 505,4 por 100 mil habitantes. Segundo o ITB, 72,7% das internações de crianças até 5 anos se dá por consequência da falta de saneamento. Isso faz com que a questão do saneamento seja uma questão de vida dos nossos operários da construção civil e de doa parte dos trabalhadores do Pará.
As obras da Companhia acompanham o ritmo brasileiro, a atenção maior é dada ao esgotamento sanitário e à universalização do abastecimento. O problema é que não é empregado o tratamento convencional é o tratamento completo, com todos os processos e a melhor qualidade de abastecimento. A simples desinfecção é o método preferido de tratamento na maioria dos municípios de pequenos portes atingidos pela política de expansão da Companhia. É o equivalente da expansão de matrículas nas universidades, sem a qualidade necessária.
A universalização da água “tratada” é uma política combinada. O setor privado está pressionando os partidos da burguesia para evitar custos elevados com saúde ao mesmo tempo em que torna o abastecimento de água e esgotamento um grande mercado. No Brasil, a limpeza urbana, coleta de lixo e drenagem de águas pluviais é majoritariamente dominada pelas concessões. Não se dá o mesmo com abastecimento e esgotamento. O setor privado ainda é um pouco marginal nestes setores. Ou melhor, os investimentos e obras em ampliação dos serviços é um paraíso para as construtoras. Resta para a burguesia ter total controle no gerenciamento e operação dos serviços de abastecimento e esgotamento. As concessões parciais e plenas ainda são o modelo de privatização preferencial, ou através da capitalização das companhias mistas.
Hoje, a política de investimento no Pará atinge M. Alegre, D. Eliseu, Marabá, Santarém, Igarapé Miri, Marituba, Ananindeua, Oriximiná, Santarém, Breves e Belém. Todas por parceria da Caixa. O PAC I tem muitas obras paradas, como Castanhal. Enquanto isso, o eleitoralismo e o interesse de construtoras impulsionam novas obras pelo PAC II. Nada mais desmoralizante do que obras paradas e revoltas das comunidades atingidas. Constrói-se assim um sentimento de desgosto fora e dentro da empresa que tentará se canalizar para a privatização.
A privatização da Companhia
Seja quem vencer estas eleições, a pressão pela privatização aumenta ano que vem. A privatização de fato já ocorre com as terceirizações dentro da empresa. Seus custos aumentam com as terceirizações e as empresas privadas são donas de espaço físico dentro da companhia. Falta o golpe final que Ana Júlia por pouco não conseguiu dar.
Atraso nos pagamentos aos fornecedores e contratados faz parte do cotidiano, assim como contratos superfaturados e favorecimento de empresa é uma realidade suja. O favorecimento de apadrinhados é um gasto que foi agitado pelo sindicato e é um duro golpe nas escassas economias da empresa, que se negou a dar um aumento acima da inflação, enquanto os assessores ganham salários de 7 mil reais.
O resultado é um quadro antigo de funcionários, com uma pequena e recente renovação, com uma folha salarial que tende a achatar como política de renovação. Um quadro mais terceirizado, menor do que antes, com uma folha salarial menor. Vários contratados foram demitidos, outros tantos retornaram à empresa por terceirizadas favorecidas, mas com salários mais achatados. Mesmo assim, a ameaça de demissão prossegue. Este é o quadro de um patrimônio enferrujado, envelhecido e carcomido pela perversidade da burguesia e de seus lacaios.
A política do governo
O acúmulo de problemas de saneamento no Norte do país é em função da prioridade da burguesia de levar saneamento onde a força de trabalho e geração de valor é mais importante. O Resultado é uma enorme disparidade entre as regiões do Brasil.       No Pará, a região metropolitana e a região do Tocantins (Marabá, Parauapebas) são as mais importantes. O governo também leva menores investimentos para outras áreas do Pará, com expressão eleitoreira. Porém, pelo peso da economia, o Sudeste Paraense vai ganhar importância e a tendência é que seja o alvo dos investimentos. A inauguração da ETA (Estação de Tratamento de Água) e ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) em Marabá são exemplos disso.
Ademais, a principal política quanto ao saneamento é o ataque à população. O problema de drenagem: “a população suja a cidade e o lixo entope os bueiros”. O problema dos resíduos sólidos: “a população joga lixo em locais proibidos”. O problema da água: “a população faz ligações clandestinas ou usa poços, portanto há um défice na empresa”. O maior argumento utilizado para justificar o fracasso do saneamento é a culpabilização dos trabalhadores.
Como espectro da crise econômica e da necessidade de superexplorar a classe trabalhadora, o governo adota a política de remanejamento e instalação de hidrômetros. O remanejamento é uma política perversa de corte de água. A companhia instala fontes alternativas em várias ruas ao mesmo tempo em que cortam as linhas antigas. Aqueles moradores que estão quites com a companhia têm direito de religar seu domicílio à nova tubulação, mas os que estão endividados, só poderão ter acesso ao abastecimento caso paguem suas dívidas.
Os hidrômetros são medidores de consumo, já denunciados por adulterarem a medição. A companhia vem instalando hidrômetros à força e revelia dos trabalhadores, já que o desemprego, a informalidade e baixa renda forçam a resistirem a esta política de ataque à suas rendas. Em contrapartida ao aumento das tarifas, ligações forçadas, cortes sistemáticos de água, há o problema da deficiência na manutenção das redes que deixa milhares de moradores sem água, por problemas nas tubulações (vazamentos e outros).
Nosso programa deve denunciar a péssima qualidade de fornecimento da água; a deficiência na coleta de resíduos sólidos; as obras mal feitas e atrasadas de macrodrenagem; a falta de lixeiras na cidade; o fracasso de ter 8% de esgotamento sanitário; a política de cabide na empresa de saneamento; favorecimento de empresas de parentes na limpeza urbana e sucateamento da Sesan; tudo o que anteriormente elencado aqui deve servir de pura e forte denuncia contra o governo de Jatene e seus cumplices nas prefeituras. Tudo isto é a antessala criada pelo governo para a privatização.
Aí entra nosso programa!
A mudança do saneamento passa pela mudança na política de favorecimento de empresários. O saneamento é totalmente ligado à expansão urbana e políticas de habitação e urbanização. Neste caso, o governo federal, os programas de aceleração e habitação entram diretamente às obrigações de governos estaduais e municipais.
Em 2013, o Pará teve participação de 2% do PIB nacional (88 bilhões). Parauapebas foi a cidade que teve um crescimento de mais de 100% no PIB, o valor das exportações foi maior que São Paulo em 2013. Porém, o modelo de desenvolvimento econômico do Pará está sustentado no favorecimento de acionistas privados da Vale, construtoras e fazendeiros. Somente este ano é previsto a renúncia de mais de 280 milhões em ICMS. Uma verdadeira afronta aos trabalhadores que sofrem com o descaso e endividamento nas mãos de bancos. Portanto, a política de fim da lei de responsabilidade fiscal, fim da lei Kandir e o fim de isenções fiscais à empresas deve ser parte de nosso programa. O não pagamento da dívida, o balizador da política fiscal, entra como palavra de ordem totalmente associada à questão de saneamento.
Portanto é importante fazer o elo: fim da Lei Kandir e LRF é o mesmo que a política de mais investimento na Companhia. A denúncia da condição de saúde/saneamento deve ser o carro chefe para ancorar nosso programa pela positiva. Mais investimentos, realizações de concursos públicos; fim das terceirizações com contratos precários e sem direitos trabalhistas; corte de regalias de assessores e comissionados (só em São Braz, folha de 124 mil com assessores ganhando 7 mil); fim das demissões e efetivação dos contratados; investigações nos contratos de obras e de fornecimento para a companhia.
A defesa dos trabalhadores da companhia é essencial. Faz parte da defesa do saneamento, pois o capital humano e profissional necessário se encontra dentro da empresa. Portanto, remuneração cobrindo a perda da inflação, com aumentos reais é uma medida necessária para fortalecer a política de saneamento à população. Nós devemos defender a valorização dos profissionais da companhia. Devemos explorar isto denunciando a política de apadrinhamento político dentro da empresa com salários altíssimos, como ocorre em outros órgãos.
Por último, a necessidade de se investir em obras públicas de saneamento, expandindo as redes de coleta e tratamento de esgoto, para além da expansão com tratamento convencional aos municípios paraenses. Tudo isto, cortando salário de parlamentares, obras desnecessárias -como a nova ALEPA- e fundamentalmente, taxando fortunas, cortando incentivos fiscais, estatizando empresas privadas e cortando pagamento de dívida.

Tudo isso com a necessidade vital e central de denunciar a intenção de privatizar a empresa, colocando o risco de demissões, altas tarifárias e gapolítica. Em Marabá, o prefeito Salame (PMDB) estava cortejando não renovar a concessão para a companhia e cedê-la para uma empresa privada. O PT mesmo que está na coligação de Helder, foi o partido que tomou a frente na proposta de privatização da Cosanpa através de Ana Júlia. Devemos explorar isto para jogar a contradição nas mãos da burguesia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário