7 de janeiro de 2015

VIVA A REVOLUÇÃO CABANA!

Por Glailson Santos


   Infelizmente muitos poucos recordam, mas há exatos 180 anos estourou em Belém do Pará a mais sangrenta revolta popular da história do Brasil, a Cabanagem. Foi na madrugada de 7 de janeiro de 1835, que liderados por Antônio Vinagre, um lavrador da pequena vila de Acará, os rebeldes tomaram de assalto o quartel e o palácio do governo de Belém, nomeando Félix Antonio Clemente Malcher presidente do Grão-Pará, em uma batalha que durou menos de um dia, onde os cabanos conquistaram a cidade de Belém, assassinando o presidente Lobo de Souza e apoderando-se de uma grande quantidade de material bélico.


   A Cabanagem, embora tenha sido a mais sangrenta insurreição brasileira, tem sido insistentemente relegada aos rodapés da história. Certamente não é por acaso que uma rebelião popular onde foi massacrado quase um terço dos 150 mil habitantes da então província do Grão Pará (que abarcava os atuais estados do Maranhão, Pará, Amapá e Amazonas) não tenha obtido sequer o mesmo destaque dado pela história oficial à 
Revolução Farroupilha. Uma vez que na revolução sulista, tão importante quanto a Cabanagem para delinear o mapa atual do Brasil, em dez anos de conflito não foram registradas mais do que quatro mil mortes. Para ter um exemplo mais claro do grau de descaso com este episódio importantíssimo de nossa história, basta lembrar que a mítica Guerra de Canudos, decorrida nos últimos anos do século XIX, teve como saldo pouco mais da metade das mortes causadas pela repressão à Cabanagem.

   A razão para tamanha violência e a explicação para toda indiferença da história oficial em relação à Cabanagem não poderia ser outra, o fato é que no século XIX, o norte do Brasil presenciou a primeira insurreição popular onde as camadas mais pauperizadas da população realmente tomaram o poder, demonstrando que era possível questionar os poderes instituídos. Um episódio que antecedeu em mais de três décadas a famosa Comuna de Paris.


   A Cabanagem foi também a única revolução no império escravagista brasileiro, onde quilombolas foram alçados ao posto de comandante em armas do vitorioso exercito revolucionário, mais de meio século antes da abolição formal da escravatura. E embora tenha sido desgraçadamente afogada em sangue pelo governo imperial, em uma ação que contou ainda com a intervenção direta do poderoso imperialismo inglês, e tenha sido repetidas vezes traída por direções conciliadoras que teimaram em titubear nos momentos mais decisivos, a Cabanagem foi uma insurreição popular que abalou as bases do poder das elites do século XIX, um episódio que nos deixou importantes lições para as lutas da atualidade. Vale muito a pena relembrar com orgulho a experiência cabana. Viva a luta cabana!

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