Elis Carvalho - Secretaria LGBT PSTU-Belém
A
metáfora de uma crucificação circula pelas redes sociais. Trata-se
de uma travesti crucificada em plena Avenida Paulista, na 19ª Parada
do Orgulho LGBT. Ensanguentada figurativamente, seus seios à mostra,
a bandeira do arco-íris ao lado. O que ela representa? Poderia ser
questão de prova. Talvez em uma educação libertária. Interprete a
imagem. Uma travesti crucificada! Por que esta cena choca tanto se a
metáfora da cruz já foi utilizada tantas e tantas vezes em outros
contextos? Sem sombras de dúvida, diferente de Neymar, Madona, Lady
Gaga e tantas outras pessoas que já encenaram a mesma imagem, o peso
da transfobia está presente na repercussão da imagem.
UM
PAÍS REGIDO PELO FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO:
Antes
de qualquer tentativa de diálogo e reflexão, não há como não
falar sobre o desserviço que presta Marco Feliciano enquanto maior
representante politico da LGBTfobia dos últimos tempos. Um indivíduo
deplorável que representa tantos outros políticos, afinal, estamos
diante da bancada parlamentar mais atrasada e reacionária dos
últimos tempos.
Feliciano
se utiliza da imagem de Viviany (travesti crucificada na parada) e
posta em sua página do Facebook fotos que não correspondem à
Parada LGBT de SP, como a do crucifixo sendo introduzido no ânus.
Felicano, Malafaia, Bolsonaro legislam a favor do preconceito e da
discriminação. Instigam o ódio para os LGBT´s em nosso país. É
a tarefa deles que a nossa situação de um assassinato a cada 26
horas persista.
A
REALIDADE DAS LGBT´S:
Desconfio
que todo esse alvoroço esteja relacionado a algo bem específico...
Vejamos. A cruz é utilizada em peças teatrais, filmes, protestos...
Encontrei umas imagens de um ensaio fotográfico em que as crianças
estavam sendo crucificadas e o objetivo era denunciar os inúmeros
abusos que elas sofrem. O ensaio é de um cubano e foi intitulado
como “Los Intocables”. Latuff tem uma charge de 2013 que retrata
um negro crucificado e sendo fuzilado por um PM. A imagem de Neymar
crucificado foi capa da Revista Placar, a respeito de sua atuação
em campo. Na Revista Veja encontrei uma capa que representava o
brasileiro crucificado, remetendo aos altos impostos. No Paraguai, em
janeiro deste ano, trabalhadores paraguaios protestaram crucificados
em frente à Embaixada brasileira, reivindicando o pagamento por
terem trabalhado na Obra da Usina de Itaipu, que é compartilhada
pelos dois países. Isso além das inúmeras manifestações de rua
que já utilizaram e utilizam a simbólica representação da
crucificação de algum problema social ou sujeito que foi, como se
diz, o Cristo da vez.
E
por que os LGBT’s não podem artisticamente em uma manifestação
representar a sua Cruz? A cruz dos LGBT’s condenados à violência
física e psicológica. Adolescentes expulsos de casa, outros
espancados para “o diabo sair do couro”, às vezes até à morte;
travestis, lésbicas e trans estupradas; LGBT queimados vivos em
rituais de purificação. Sem falar da pressão psicológica. Muitos
não aguentam. O Grupo Gay da Bahia (GGB) todos os anos faz um
Relatório dos Assassinatos de LGBT, em 2014 foram 326 mortes e 9
suicídios contabilizados. Entre as causas mortis estão
asfixia/enforcamento, espancamento, pauladas, apedrejamento...
LUTAR CONTRA A OPRESSÃO E A EXPLORAÇÃO
Ocorre
que, segundo o julgamento de alguns, os LGBT são tão imundos,
pecaminosos e indignos que são desprovidos de fé. Mesmo sendo a nós
negados os direitos mais fundamentais como, o emprego, a saúde, o
respeito e até mesmo a vida, nada disso é considerado. Cada um tem
a sua trajetória. Cada um carrega a sua cruz, como diz o ditado, mas
nesse contexto parece que alguns devem carregar calados. A polêmica
esconde a LGBTfobia e a Transfobia a que estão submetidos os LGBT’s
trazendo a tona todo o preconceito e a triste realidade de que não
temos direito nem de professar a fé.
Não
temos acordo com a performance escolhida pela atriz, muito embora
isso ocorra em resposta a violência que sofremos. De forma
distorcida a manifestação deu aos fundamentalistas argumentos para
que atacassem ainda mais nossas reivindicações mais legitimas. É
necessário que as Paradas LGBT’s sejam espaço de luta como a
Revolta de Stonewal que lhe deu origem.
A
tarefa colocada para o Movimento LGBT precisa se pautar nas denúncias
aos Governos e aos fundamentalistas que negociam nossos direitos e
tem promovido verdadeiros ataques a classe trabalhadora de conjunto.
Exigimos que a criminalização da homofobia aconteça no Brasil.
Queremos a revogação das MP’s 664 e 665 que retiram conquistas
históricas dos trabalhadores e somos contra o PL 4330 que é um duro
ataque a classe trabalhadora, atingindo de forma nefasta os setores
oprimidos da sociedade, como mulheres, LGBT’s e negros. Precisamos
nos unir pelo Fora Eduardo Cunha e exigir um Estado Laico que
represente de fato toda a sociedade.
Contra
a Transfobia, lesbofobia, homofobia e bifobia a nossa luta é todo
dia!
Nenhum comentário:
Postar um comentário