13 de junho de 2015

SOBRE O CRISTO BLASFEMADO

Elis Carvalho - Secretaria LGBT PSTU-Belém

A metáfora de uma crucificação circula pelas redes sociais. Trata-se de uma travesti crucificada em plena Avenida Paulista, na 19ª Parada do Orgulho LGBT. Ensanguentada figurativamente, seus seios à mostra, a bandeira do arco-íris ao lado. O que ela representa? Poderia ser questão de prova. Talvez em uma educação libertária. Interprete a imagem. Uma travesti crucificada! Por que esta cena choca tanto se a metáfora da cruz já foi utilizada tantas e tantas vezes em outros contextos? Sem sombras de dúvida, diferente de Neymar, Madona, Lady Gaga e tantas outras pessoas que já encenaram a mesma imagem, o peso da transfobia está presente na repercussão da imagem.
UM PAÍS REGIDO PELO FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO:
Antes de qualquer tentativa de diálogo e reflexão, não há como não falar sobre o desserviço que presta Marco Feliciano enquanto maior representante politico da LGBTfobia dos últimos tempos. Um indivíduo deplorável que representa tantos outros políticos, afinal, estamos diante da bancada parlamentar mais atrasada e reacionária dos últimos tempos.
Feliciano se utiliza da imagem de Viviany (travesti crucificada na parada) e posta em sua página do Facebook fotos que não correspondem à Parada LGBT de SP, como a do crucifixo sendo introduzido no ânus. Felicano, Malafaia, Bolsonaro legislam a favor do preconceito e da discriminação. Instigam o ódio para os LGBT´s em nosso país. É a tarefa deles que a nossa situação de um assassinato a cada 26 horas persista.
A REALIDADE DAS LGBT´S:
Desconfio que todo esse alvoroço esteja relacionado a algo bem específico... Vejamos. A cruz é utilizada em peças teatrais, filmes, protestos... Encontrei umas imagens de um ensaio fotográfico em que as crianças estavam sendo crucificadas e o objetivo era denunciar os inúmeros abusos que elas sofrem. O ensaio é de um cubano e foi intitulado como “Los Intocables”. Latuff tem uma charge de 2013 que retrata um negro crucificado e sendo fuzilado por um PM. A imagem de Neymar crucificado foi capa da Revista Placar, a respeito de sua atuação em campo. Na Revista Veja encontrei uma capa que representava o brasileiro crucificado, remetendo aos altos impostos. No Paraguai, em janeiro deste ano, trabalhadores paraguaios protestaram crucificados em frente à Embaixada brasileira, reivindicando o pagamento por terem trabalhado na Obra da Usina de Itaipu, que é compartilhada pelos dois países. Isso além das inúmeras manifestações de rua que já utilizaram e utilizam a simbólica representação da crucificação de algum problema social ou sujeito que foi, como se diz, o Cristo da vez.
E por que os LGBT’s não podem artisticamente em uma manifestação representar a sua Cruz? A cruz dos LGBT’s condenados à violência física e psicológica. Adolescentes expulsos de casa, outros espancados para “o diabo sair do couro”, às vezes até à morte; travestis, lésbicas e trans estupradas; LGBT queimados vivos em rituais de purificação. Sem falar da pressão psicológica. Muitos não aguentam. O Grupo Gay da Bahia (GGB) todos os anos faz um Relatório dos Assassinatos de LGBT, em 2014 foram 326 mortes e 9 suicídios contabilizados. Entre as causas mortis estão asfixia/enforcamento, espancamento, pauladas, apedrejamento... 
LUTAR CONTRA A OPRESSÃO E A EXPLORAÇÃO
Ocorre que, segundo o julgamento de alguns, os LGBT são tão imundos, pecaminosos e indignos que são desprovidos de fé. Mesmo sendo a nós negados os direitos mais fundamentais como, o emprego, a saúde, o respeito e até mesmo a vida, nada disso é considerado. Cada um tem a sua trajetória. Cada um carrega a sua cruz, como diz o ditado, mas nesse contexto parece que alguns devem carregar calados. A polêmica esconde a LGBTfobia e a Transfobia a que estão submetidos os LGBT’s trazendo a tona todo o preconceito e a triste realidade de que não temos direito nem de professar a fé.
Não temos acordo com a performance escolhida pela atriz, muito embora isso ocorra em resposta a violência que sofremos. De forma distorcida a manifestação deu aos fundamentalistas argumentos para que atacassem ainda mais nossas reivindicações mais legitimas. É necessário que as Paradas LGBT’s sejam espaço de luta como a Revolta de Stonewal que lhe deu origem.
A tarefa colocada para o Movimento LGBT precisa se pautar nas denúncias aos Governos e aos fundamentalistas que negociam nossos direitos e tem promovido verdadeiros ataques a classe trabalhadora de conjunto. Exigimos que a criminalização da homofobia aconteça no Brasil. Queremos a revogação das MP’s 664 e 665 que retiram conquistas históricas dos trabalhadores e somos contra o PL 4330 que é um duro ataque a classe trabalhadora, atingindo de forma nefasta os setores oprimidos da sociedade, como mulheres, LGBT’s e negros. Precisamos nos unir pelo Fora Eduardo Cunha e exigir um Estado Laico que represente de fato toda a sociedade.

Contra a Transfobia, lesbofobia, homofobia e bifobia a nossa luta é todo dia!

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